A vida lá no alto
Hoje subi o morro buscando novas inspirações. Trouxe papel e caneta e agora estou tentando ler as vidas através das janelas. Vejo uma garota brincando de boneca com uma caixa de leite e um garoto que chuta a bola de meia com os pés descalços. A senhora vendendo sorvete parece conhecer muito sobre a vida. Tem também a morena sorridente que desce a ladeira colecionando olhares e distribuindo sorrisos. Queria ter tempo para ir até lá conversar. Algo me diz que ela não vai morar aqui por muito tempo. A garota de amarelo sonha em trabalhar na loja do shopping. O garotinho marrento sonha em ouvir o seu nome cantado no Maracanã. Há também quem deseje ficar por aqui. Acho que é o caso dos senhores jogando sinuca ali na laje. Eles não demonstram precisar de mais nada. O gringo tira foto do que aqui eles costumam chamar de vida. A gringa tenta treinar o seu português com o rapaz analfabeto. Ao subir mais um pouco o colorido das casas se mistura ao verde das árvores. O grafite nas paredes vence a guerra contra o concreto. A vista santifica o local. Como chamar de carente alguém que tem o paraíso no quintal de casa? Os hotéis 5 estrelas da orla e suas sacadas gourmets jamais conseguirão algo tão incrível. Os carros importados lá embaixo diminuem a velocidade e apontam dedos com os vidros fechados e o ar condicionado ligado. Admiram e depois retornam aos seus feudos. Cruzo com um carro de polícia e pela primeira vez sinto medo. Depois passa. Depois volta. Sabe, gostaria de viver por aqui por um tempo. Queria ser o namorado da morena sorridente, jogar bola com a garotada no campinho de terra e escrever um poema assistindo ao nascer do sol daquela varanda. Queria poder dizer que sei o que é isso. Que sei sobre o que estou escrevendo. Que sei o que é viver aqui. Que não sou só mais um playboy que vem aqui fazer turismo. Queria, mas não posso. O que eu sei é que eu subi e não vi sangue e nem ouvi tiros. Que vi crianças indo para a escola e pais de família trabalhando duro. Que fui recebido com sorrisos e saio cheio de boas histórias pra contar. Histórias de um povo que vive em um lugar que muitos chamam de inferno, mas que fica bem pertinho do céu.
E aí xará, tudo beleza?
Acho que no fim, é a isso que a vida se resume né? Como olhar a vida de uma perspectiva diferente. Como tentar sair de sua zona de conforto e ver o mundo pelo olhos do outro. O que pra muitos pode ser o fim, para outros um começo. Tudo depende da perspectiva que se olha… Cada um tem sua história, seus sonhos…
Lindo, lindo texto!
Mais lindo ainda foi seu olhar sobre o nosso cotidiano, sim sou moradora desse lugar.
Que não é o “céu”, porém está muito distante de ser um inferno tão falado!!!
Espero que tenha realmente saído daqui cheio de inspiração e que encontre um tempo pra voltar!!!
Pq motivos aqui não faltam! Rs
Muito obrigada por essa forma linda de enxergar o que muitos só vem…
Nem preciso dizer que… Amei o texto, mais um!
ameiiiii